quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A Carta > Capítulo 1 - Olhar envelhecido

Encostado, respirando uma fria noite de inverno estava ele que vivera todos seus anos deleitosamente até um enfadonho momento de ausência. Sem luz, à margem de seu único norteio, suas mãos, ele resolve se sentar para respirar melhor. O ar parecia ter se exaurido de seu redor. Suas mãos já não se aguentavam de tremor. Ele ajeitava o fino tecido que ele teimara em chamar "roupa", estava praticamente nú naquele frio.

Os olhos se fecharam, seus pensamentos já não tinham nexo e um sentimento de insignificância tomava sua alma. Estava próximo do fim. Para ele, já havia gasto tudo que lhe fora oferecido nessa vida, e se houvesse mais não era pra ele. O peso em sua alma o levava ao chão.
Ele só queria, em meio ao frio sólido daquele beco escuro e o gélido ar que o fazia viver, receber sua ultima porção de vida. Desejou viver.

- Você é Julio Oliveira de Albuquerque? - Uma sobra sem nome disse.

Julio não deu a mínima, era hora de recostar no chão e desfalecer, talvez falecer, o que o destino estivesse escolhido. Mas o homem indagou:

- Você é Julio Oliveira de Albuquerque?
- Por enquanto sou, daqui a pouco não me importa. - E com voz tremula continuou - Já tive meu nome chamado por muitos, hoje não vale nada.

Julio, sou apenas um mensageiro - o homem tira uma carta selada - e vim lhe trazer esta carta escrita pelas mãos do Imperador para você.

Julio estranha toda aquela história, mesmo não tendo vontade alguma de abrir os olhos. O Mensageiro se sentou ao lado de Julio por minutos. O frio errolava a já madrugada quando Julio resolve abrir os olhos. Ele notou o mensageiro, com a carta em mãos e sentindo o mesmo frio.
Então ele resolve pegar a carta das mãos do mensageiro que após esse ato se levantou, se despediu e foi embora dizendo para Julio esperar.Se fosse uma carta do Imperador em pessoa,qual o motivo de entregar à um homem falido e destruído? Um homem quebrando como um vaso em cacos.

Julio seguiu o conselho do mensageiro e esperou com a carta em mãos. O frio parecia um pouco mais ameno mas não menos mortal.A carta selada.

O Selo Imperial era de tal modo lindo. Com um leão e asas ao redor. Detalhes de oliveiras e uma coroa insigne no topo. Selo de cera.

- Bom, se a carta era enderessada à mim, sou eu que devo abrir. - pensou Julio, notando que voltara a pensar com nexo - abro ou não abro.
Obviamente tinha o nome dele na carta mas essa dúvida inesplicável surgiu em sua mente. Sim ou não. Sim? Ou melhor não? Esperar?
Então como uma flecha, uma mão se aproximou e pegou na carta justo no momento em que Julio decidiu abrir o tal escrito do Imperador.

O homem, de estatura mediana, de longo sobretudo, rosto fixo e consolador pergutou: - Posso conferir a carta? Julio aceitou com a cabeça.
Julio reparou na borda do sobretudo. Um desenho como de asas de pássaro. Bem definos, perfeitamente bordados com fios que pareciam brlhar.
- Eis seu casaco meu amigo, e sua carta é de fato do imperador. Venha comigo, ele quer vê-lo.
Julio, encontrou forças em suas pernas.
Ao levantar com aquele calor confortante do novo casaco, ele guardou em seu novo bolso a carta imperial. - Qual seu nome? - perguntou Julio.
- Meu nome é P. Henki e esse frio já foi o bastante pra você, venha. Então P. Henki e Julio seguiram ao fim daquele beco onde o ar se movia.
Julio se sentiu bem naqueles passos ao lado de P. Henki. Aquele homem de belo sobretudo lhe passava a calma que ele não tivera a pouco.
De fato o era, P. Henki tinha um passo firme em cadência mas parecia que não pisava o solo de tão suave que eram tais passos. Voz grave.
- Julio, você não está entendendo o porque se levantou tão repentinamente e me segue? O motivo é que você quer conhecer o Imperador não é?
- Sim, mas não entendo o motivo de confiar em você?
-Vi quando entrou no beco,então indiquei a um mensageiro do Imperador onde você estava.
Julio pensou por qual razão o Imperador,cuja toda cidade tinha um certo medo, havia lhe escrito uma carta e queria o ver. Ventava muito.
No fim do beco, ao longe menos que duas quadras estava um tipo de lambreta um pouco maior do que o comum. P. Henki subiu no veículo.
- Suba, é hora de começar uma longa viagem.Iremos parar pela estrada mas se estiver com fome tem comida nessas bolsas ao lado. Confie em mim.
Julio estranhamente confiava. Sem entender direito, logo se viu dexando as ruas e leitos que havia escolhido para morrer.
A sensação de movimento e risco se fundiam com segurança e paz. As lembranças trazidas pelo vento no rosto tornavam tudo ao redor mais engraçado.
Sim engraçado, não digno de gargalhadas ou risos, mas de um leve sorriso, viver um inacreditável pois Julio se sentia condenado minutos antes.
O primeiro raio de Sol daquela dia veio cruzando sua retina e juntando-se na mente ao cheiro de manhã fresca. Sentimento de juventude era o que o primeiro pensamento daquela manhã.